E quem não guarda a
lembrança de um lugar preferido? Não to falando da própria casa, mas sim de um
lugar que foi uma ou várias vezes e que inspira lembranças boas. Esse “meu”
lugar era minha casa da praia, era, porque esse foi o primeiro verão depois de
20 anos que não senti o cheiro do meu quarto, não dormi ouvindo o mar revolto,
não fui ver o sol nascer na beira da praia. Vendemos a casa e foi muito, muito
difícil. Vendemos por vários motivos, não vou entrar nesse assunto. Quero falar
das lembranças que tenho de lá.
Lembro
exatamente do dia da mudança, era um final de semana em 1994, mãe, Carine
(minha irmã) e eu fomos à cabine do caminhão e atrás, o Zeno (amigo da família)
e o Marcelo (irmão de coração). Foi um dia com sol e chuva, o motorista do
caminhão era um vizinho aqui de São Leopoldo Lembro-me dele bater várias vezes no painel do
caminhão e falar “não é pra dormir aqui” brincando, mas nos acordava. Lembro-me
de chegar e ver o caminhão sendo descarregado, da casa ficando com jeito de “casa”.
E do cachorro quente que fizemos de janta.
Lembro-me dos anos
seguintes, do primeiro veraneio do Lucas meu primo e das nossas brigas na
infância. Porém, com o passar dos anos este mesmo primo se tornou o parceiro
para tudo, festa, filmes de madrugada, seriados, joguinhos, conversas e
leituras.
Naquela
casa, lembro-me de comer branquinho com uvas feito pela tia Ana; das corridas
nas dunas, dos jogos de taco na rua de areia ao lado, do luau com a fogueira de
móveis que o vizinho descartou. Aliás, fogo era normal, com muitos matos ao
redor, fogueira era rotina pra gente, até o dia que coloquei o pé na brasa e me
queimei. Lembro-me da casinha montada com lixo, dos shows da Daniela Mercury, É
o Tchan...
Lembro depois, já
adolescente das festinhas que fizemos na garagem, dos reveillon´s que eram uma
verdadeira micareta familiar. Das vezes que vi o sol nascer, dos banhos de mar à
noite e do inverno lá... adorava dormir com o vento batendo na janela!
Aquela casa foi ponto de
encontro da família e de amigos, nos primeiros verões, a casa abrigou vinte
argentinos, até hoje não sei como tanta gente ficou na nossa casa, mas eu
adorava aquela muvuca! Aliás, em novembro de 2012, relembramos isso com meus
amigos estrangeiros: americana (1), espanhóis (2), colombiana (1), uruguaias
(2), paraguaia (1). A casa abrigava todo mundo com a maior alegria e eu deixei
todas essas lembranças. A casa estava sempre cheia e assim foi nossa última
festa antes da mudança, com muita festa e casa lotada!
Não sei se vou conseguir
passar lá na frente, pelo menos não consegui nem pensar nisso durante esse
primeiro verão. Talvez essa saudade não seja da casa em si, mas de tudo que ela
representou na infância e na adolescência. Um dia quem sabe, levo meus filhos
lá e conto as histórias, como as que ouvi dos meus pais sobre Imara.