sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

O sabor da lembrança



E quem não guarda a lembrança de um lugar preferido? Não to falando da própria casa, mas sim de um lugar que foi uma ou várias vezes e que inspira lembranças boas. Esse “meu” lugar era minha casa da praia, era, porque esse foi o primeiro verão depois de 20 anos que não senti o cheiro do meu quarto, não dormi ouvindo o mar revolto, não fui ver o sol nascer na beira da praia. Vendemos a casa e foi muito, muito difícil. Vendemos por vários motivos, não vou entrar nesse assunto. Quero falar das lembranças que tenho de lá.
        Lembro exatamente do dia da mudança, era um final de semana em 1994, mãe, Carine (minha irmã) e eu fomos à cabine do caminhão e atrás, o Zeno (amigo da família) e o Marcelo (irmão de coração). Foi um dia com sol e chuva, o motorista do caminhão era um vizinho aqui de São Leopoldo  Lembro-me dele bater várias vezes no painel do caminhão e falar “não é pra dormir aqui” brincando, mas nos acordava. Lembro-me de chegar e ver o caminhão sendo descarregado, da casa ficando com jeito de “casa”. E do cachorro quente que fizemos de janta. 
Lembro-me dos anos seguintes, do primeiro veraneio do Lucas meu primo e das nossas brigas na infância. Porém, com o passar dos anos este mesmo primo se tornou o parceiro para tudo, festa, filmes de madrugada, seriados, joguinhos, conversas e leituras. 

      Naquela casa, lembro-me de comer branquinho com uvas feito pela tia Ana; das corridas nas dunas, dos jogos de taco na rua de areia ao lado, do luau com a fogueira de móveis que o vizinho descartou. Aliás, fogo era normal, com muitos matos ao redor, fogueira era rotina pra gente, até o dia que coloquei o pé na brasa e me queimei. Lembro-me da casinha montada com lixo, dos shows da Daniela Mercury, É o Tchan...
Lembro depois, já adolescente das festinhas que fizemos na garagem, dos reveillon´s  que eram uma verdadeira micareta familiar. Das vezes que vi o sol nascer, dos banhos de mar à noite e do inverno lá... adorava dormir com o vento batendo na janela! 

Aquela casa foi ponto de encontro da família e de amigos, nos primeiros verões, a casa abrigou vinte argentinos, até hoje não sei como tanta gente ficou na nossa casa, mas eu adorava aquela muvuca! Aliás, em novembro de 2012, relembramos isso com meus amigos estrangeiros: americana (1), espanhóis (2), colombiana (1), uruguaias (2), paraguaia (1). A casa abrigava todo mundo com a maior alegria e eu deixei todas essas lembranças. A casa estava sempre cheia e assim foi nossa última festa antes da mudança, com muita festa e casa lotada! 

Não sei se vou conseguir passar lá na frente, pelo menos não consegui nem pensar nisso durante esse primeiro verão. Talvez essa saudade não seja da casa em si, mas de tudo que ela representou na infância e na adolescência. Um dia quem sabe, levo meus filhos lá e conto as histórias, como as que ouvi dos meus pais sobre Imara. 


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